segunda-feira, dezembro 14, 2009

Caro Dom,

Se este foi o seu testamento, este será o meu renascimento e por não poder deixar de ser, também o meu lamento.

Mais um ano se passou e com ele passaram todas as minhas ilusões e todos os meus sonhos. A humanidade continua aí, estupida como sempre foi, cagando montes diários de sabedoria e eu nem me dou conta.
O camarada JC mais uma vez nos alcançou, lançando a sua fúria e a sua ignorância. O povo, lastimado pela falta de dinheiro, de educação e de futuro, engole a sua hóstia diária e reza por dias melhores que não virão, temendo um deus odioso e putrefato que do alto da sua inexistência lança raios de desesperança nestes corações que nem sabem mais porquê pulsam.

E eu, bom, eu continuo a minha sina, não melhor que um zé ninguém, prostituindo a minha alma pelo simples fato de não saber o que quero encontrar, buscando coisas que não estava atrás, nunca feliz e nunca plenamente triste.

E enfim, digníssimo Dom, nada mudou no lado de cá do globo, o JC mais uma vez caminhará sobre a terra parcelando montes de sonhos desnecessários e esperando pela alegria do próximo carnaval que nunca deveria acabar, para que enfim todos percebessem que não é o carnaval que nós enfim esperamos.

Abraços saudosos e viva a cruz, que não deixa estes pobres diabos esqueceram porquê nasceram.

Dick Savage

sexta-feira, abril 10, 2009

Prezado Dick,

Este é o meu testamento, e também o meu lamento. A vida nos engole fácil, o sistema nos transforma em escravos num piscar de olhos e trabalhamos como formigas, desfilando nossas bundas gordas por aí e carregando alguma coisa para algum lugar.

O sistema tem suas entranhas e muitas falhas, mas consegue aprisionar; os mais fracos para sempre e os mais fortes por muito tempo. Mesmo tendo consciência, acabamos perdendo a noção do perigo que é tentar isolar o animal que existe dentro de cada ser humano.

Vista isso e coma aquilo, trabalhe, administre, compre e seja feliz. O imediatismo traz consigo a letargia de uma vida modernizada e corrente. Corremos atrás do que nem sabemos e, se algum dia, o sol se acabar, seremos apenas uma montanha de corpos arrependidos de não ter vivido.

Enquanto isso, é páscoa na terra do JC. E aqui? É só mais um dia. E eu já comi a minha porção de carne e estou pronto para o sacrilégio noturno.

Um brinde à heresia!

Grande abraço,

Dom.

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Caríssimo Dom,


Perdoe-me pela ausência deveras prolongada, mas a pressão atmosférica nestes trópicos aliada a burocracia estúpida paralisaram-me e a minha vontade normalmente diminuta e inexpressiva sumiu de vez nestes dias que passaram. e nada parece que vai melhorar.


Como esperado era, a inércia toma conta de tudo e de todos neste lado do globo. Tudo que eu antevia, um horizonte com máscaras festivas, musica de baixa qualidade, bebida em excesso, aconteceu. E como esperado era, participei de corpo e alma das festividades, dancei, refestelei, girei na areia e me embriaguei, e desejei, desejei que estes dias durassem mais, para que não precisasse voltar à estupidez de meus dias sem escolhas. Mas acabou e agora o ano enfim começará. E os nossos sonhos patéticos transformar-se-ão em passado e o desespero de uma vida sem sentido tomará conte de todos. Muito bom que vivemos num glorioso país católico com vários santos e coelhos a festejar os seus feriados dando assim a nós pobres diabos um pouco de esperança alcoólica nos feriados prolongados que virão. e nada parece que vai melhorar.


Sábio foi Ford que colocou os Delta-cáqui(ou seriam Ipsilons-pretos ou ainda Gamas-verdes?) para trabalharem nos trópicos porque o trabalho braçal e repetitivo é único que pode ser realizado com facilidade com este clima agressivo. Num clima assim somente brutos e corruptos conseguem realmente encher a rabiola de dinheiro, qualquer ser com discernimento intelectual fica entorpecido aqui. e nada parece que vai melhorar.


Brindei por nós durante o último mês, agora é você, embriagado por fogos de artifício que deve brindar a falta de vontade diária, a inércia sem futuro que nos rege. Brinde a certeza de que nada vai realmente melhorar.


Abraços Saudosos,


Dick

domingo, janeiro 04, 2009

Meu estimado colega Sr. Savage,

Pois bem, depois das festividades de fim de ano, reunimo-nos (ou será 'reunimos-nos'?) aqui na casa do senhor para celebrar a morte e vida eterna, o corpo e o sangue, a paz e a guerra.

O motivo pelo qual lhe endereço estas tão estimadas linhas é único, simples, direto e persistente: meus sentimentos de puro ódio e desprezo por nossa categoria biológica geral, popularmente conhecida como 'o homem', 'o ser humano'.

Aproveito a ocasião festiva, justamente esta na qual todos fingem ter afeto, compaixão e zelo pelos vizinhos, pelos pobres e pelos menos favorecidos, para propor um brinde à ganância. Sim, este é o sentimento que brota do fundo da alma humana e floresce na desonestidade e mesquinharia, gerando os (por sua vez, também belos) frutos da trambicagem e maracutaia - todos estes crescendo nos belos campos da ignorância, logos atrás das montanhas do controle mental absoluto.

Acredito que, no momento, estejas desfrutando desta nobre nuvem atmosférica gerada por tal sentimento embriagante. Pois bem, proponho-te que bebas do sangue de cristo, da água destilada dos doces prazeres e do ouro líquido e refrescante. Que os deleites do prazer cego te embriaguem com força para cegar-te perante a realidade.

Beba ao nosso brinde, pois é o que nos resta para salvar esse mundo cheio de gente suja e desonesta. Seja dono de seus pensamentos.

Que venham as novas colheitas e que a máquina continue funcionando à todo vapor em seu ritmo fúnebre.

Um brinde ao natal e ao ano novo.

Dom

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Carissimo Dom,

Pensar nunca foi bom. Pensar sobre pessoas é ainda pior, as conclusões jamais poderão ser boas. E isso é ainda pior porque acaba nos levando a achar que somos melhores que esta massa podre e sem vontade que anda por aí, mas até onde me concerne somos iguais a eles.
Ok, tá bom, é mentira, não podemos ser assim, temos que ser melhores. Somos melhores.

Nesses dias que passam a convivência fica cada vez mais dificil. Como resposta a estupidez que me obrigo a vivenciar eu coloco um sorriso na face e sigo adiante. Vejo colegas de trabalho arquitetando melhores formas de enganar o sistema fiscal e receber mais dinheiro na sua restituição, vejo os mesmos reclamarem do governo. E eu, bobo que sou, já não argumento, sigo adiante. Ando na rua e vejo pessoas andando com suas biblias em baixo do braço, rezando e pagando o dizimo e quando chegam em casa se masturbam vendo a novela e dão um sacode na patroa, e eu não reclamo, sigo adiante. Vejo diariamente placas de obras do governo com números espatafurdios sobre obras fantasmas e não é necessário conhecimento avançado em engenharia e matemática financeira para constatar que estamos sendo enganados, e eu, bom, sigo adiante.

E de tando seguir adiante constatei que estou parado. É nessas horas que as perguntas surgem e as respostas escapam. É aí que a dúvida de que não passamos de vermes num oceano de merda aparece e a resposta me parece óbvia.

Mas deixe estar.

Abraços saudosos,

Dick

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Caro Dick,

Muito bom receber notícias suas.

Hoje, e frequentemente, me deparo com pensamentos sobre o mundo e sobre as pessoas. Normalmente me arrependo de iniciar este tipo de pensamento, pois cada vez mais chego à conclusão de que o mundo é realmente uma grande merda.

Vejo as pessoas se arrastando por aí, com suas caras ridículas e vozes horrendas, fazendo sabe-lá-o-quê, indo pra sei-lá-aonde e pensando em nem-quero-saber-no-quê e acabo me irritando profundamente. Acho que os bons e velhos tempos já se foram, os tempos de se amarrar cachorro com lingüiça e dar uma metida sem medo de ser feliz. Os tempos do galanteio e da pureza das coisas simples, meu amigo, já se foram e vão ficar na memória de nossos pais e avós.

Toda a boa música, as boas poesias, os bons filmes, os pensamentos inteligentes e as coisas feitas para durar já foram inventadas, usadas e esquecidas. Os discos de vinil, as máquinas de escrever e os livros, as mulheres inocentes e as crianças sujas de barro e com joelhos ralados, tudo isso já é coisa do passado e dá lugar à toda essa merda industrializada, rápida e escrota que somos obrigados a consumir freneticamente.

Aids e câncer, queijo processado e rolos de papel higiênico branco e perfumado, música de péssima qualidade, até quando vamos agüentar? Até quando vamos andar de joelhos implorando pela mais nova inovação tecnológica da indústria? Até quando vamos agüentar calados?

Quando virá o dia da grande revolução? Será que somos alguns ovos de vermes num oceano de merda contaminada?

Um brinde às boas coisas da vida, às que ainda podemos desfrutar.

Dom.

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Bom Dia Dom meu caro,

Mais uma semana que começa, e com ela começa a costumeira prostituição. Ontem conversando com o camaradinha Jeban num desses bares da vida, ele sabiamente discorreu sobre este assunto que é tão recorrente em nossas conversas e em minha atual situação. Concluímos que sou uma putinha bem ordinária, afinal a minha taxa dinheiro/tempo é menor do que as minhas colegas de trabalho, ao menos das colegas com um pouco de, digamos, talento, e ainda por cima elas correm o risco de ter prazer, risco esse que dificilmente corro durante a minha jornada de prostituição.
Resumindo, estou vendendo essa bundinha muito barato.

Hoje no caminho para o trabalho, conversando com o taxista que me trouxe, ele comentou que havia comprado um veiculo novo, mas que havia vindo com alguns detalhes diferentes do que ele havia pedido. A cor por exemplo(!). Isso por si só me pareceu inacreditável. Mas o que mais me chocou e me lembrou de nossas conversas foi quando ele comentou que havia pedido pra trocar o carro pelo modelo correto, mas que só chegaria ao final de março. Afinal já estamos no natal e depois tem o carnaval, aí fica difícil a concessionária enviar um carro novo antes disso. PASMEN! e essas foram as palavras dele, não minhas.

Logo a solução, já que nada ocorre até o carnaval, é trabalhar essa minha bundinha, deixar ela mais sarada, para que após o período festivo eu aumente a minha taxa dinheiro/tempo.

E sim, no Carnaval tudo pode. Graças ao bom Deus!

Saudações ébrias!

Dick

Ps.: Não existe definição mais sábia para o termo carnaval que esta que me enviaste. Sábios Orientais! Tanta sabedoria e tão pouca noção do que fazer com ela!