segunda-feira, dezembro 08, 2008

Carissimo Dom,

Pensar nunca foi bom. Pensar sobre pessoas é ainda pior, as conclusões jamais poderão ser boas. E isso é ainda pior porque acaba nos levando a achar que somos melhores que esta massa podre e sem vontade que anda por aí, mas até onde me concerne somos iguais a eles.
Ok, tá bom, é mentira, não podemos ser assim, temos que ser melhores. Somos melhores.

Nesses dias que passam a convivência fica cada vez mais dificil. Como resposta a estupidez que me obrigo a vivenciar eu coloco um sorriso na face e sigo adiante. Vejo colegas de trabalho arquitetando melhores formas de enganar o sistema fiscal e receber mais dinheiro na sua restituição, vejo os mesmos reclamarem do governo. E eu, bobo que sou, já não argumento, sigo adiante. Ando na rua e vejo pessoas andando com suas biblias em baixo do braço, rezando e pagando o dizimo e quando chegam em casa se masturbam vendo a novela e dão um sacode na patroa, e eu não reclamo, sigo adiante. Vejo diariamente placas de obras do governo com números espatafurdios sobre obras fantasmas e não é necessário conhecimento avançado em engenharia e matemática financeira para constatar que estamos sendo enganados, e eu, bom, sigo adiante.

E de tando seguir adiante constatei que estou parado. É nessas horas que as perguntas surgem e as respostas escapam. É aí que a dúvida de que não passamos de vermes num oceano de merda aparece e a resposta me parece óbvia.

Mas deixe estar.

Abraços saudosos,

Dick

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Caro Dick,

Muito bom receber notícias suas.

Hoje, e frequentemente, me deparo com pensamentos sobre o mundo e sobre as pessoas. Normalmente me arrependo de iniciar este tipo de pensamento, pois cada vez mais chego à conclusão de que o mundo é realmente uma grande merda.

Vejo as pessoas se arrastando por aí, com suas caras ridículas e vozes horrendas, fazendo sabe-lá-o-quê, indo pra sei-lá-aonde e pensando em nem-quero-saber-no-quê e acabo me irritando profundamente. Acho que os bons e velhos tempos já se foram, os tempos de se amarrar cachorro com lingüiça e dar uma metida sem medo de ser feliz. Os tempos do galanteio e da pureza das coisas simples, meu amigo, já se foram e vão ficar na memória de nossos pais e avós.

Toda a boa música, as boas poesias, os bons filmes, os pensamentos inteligentes e as coisas feitas para durar já foram inventadas, usadas e esquecidas. Os discos de vinil, as máquinas de escrever e os livros, as mulheres inocentes e as crianças sujas de barro e com joelhos ralados, tudo isso já é coisa do passado e dá lugar à toda essa merda industrializada, rápida e escrota que somos obrigados a consumir freneticamente.

Aids e câncer, queijo processado e rolos de papel higiênico branco e perfumado, música de péssima qualidade, até quando vamos agüentar? Até quando vamos andar de joelhos implorando pela mais nova inovação tecnológica da indústria? Até quando vamos agüentar calados?

Quando virá o dia da grande revolução? Será que somos alguns ovos de vermes num oceano de merda contaminada?

Um brinde às boas coisas da vida, às que ainda podemos desfrutar.

Dom.

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Bom Dia Dom meu caro,

Mais uma semana que começa, e com ela começa a costumeira prostituição. Ontem conversando com o camaradinha Jeban num desses bares da vida, ele sabiamente discorreu sobre este assunto que é tão recorrente em nossas conversas e em minha atual situação. Concluímos que sou uma putinha bem ordinária, afinal a minha taxa dinheiro/tempo é menor do que as minhas colegas de trabalho, ao menos das colegas com um pouco de, digamos, talento, e ainda por cima elas correm o risco de ter prazer, risco esse que dificilmente corro durante a minha jornada de prostituição.
Resumindo, estou vendendo essa bundinha muito barato.

Hoje no caminho para o trabalho, conversando com o taxista que me trouxe, ele comentou que havia comprado um veiculo novo, mas que havia vindo com alguns detalhes diferentes do que ele havia pedido. A cor por exemplo(!). Isso por si só me pareceu inacreditável. Mas o que mais me chocou e me lembrou de nossas conversas foi quando ele comentou que havia pedido pra trocar o carro pelo modelo correto, mas que só chegaria ao final de março. Afinal já estamos no natal e depois tem o carnaval, aí fica difícil a concessionária enviar um carro novo antes disso. PASMEN! e essas foram as palavras dele, não minhas.

Logo a solução, já que nada ocorre até o carnaval, é trabalhar essa minha bundinha, deixar ela mais sarada, para que após o período festivo eu aumente a minha taxa dinheiro/tempo.

E sim, no Carnaval tudo pode. Graças ao bom Deus!

Saudações ébrias!

Dick

Ps.: Não existe definição mais sábia para o termo carnaval que esta que me enviaste. Sábios Orientais! Tanta sabedoria e tão pouca noção do que fazer com ela!